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A evolução so setor florestal brasileiro no século XXI

 Mais e mais as empresas, principalmente as indústrias, estão tendo que produzir considerando a necessidade de proteger o meio ambiente e assegurar um melhor padrão de vida para as futuras gerações.

O Brasil é um importante produtor e consumidor de madeira. Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), considerando dados da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), aponta uma tendência de elevação no consumo de madeira e na produção de alguns setores no Brasil, principalmente os de celulose e papel e de painéis reconstituídos.

Nesse estudo registra-se que em 2001, o consumo nacional de madeira foi estimado em 400 milhões de metros cúbicos e que a necessidade de plantio seria da ordem de 630 mil hectares por ano.

O setor florestal brasileiro é parte importante do agronegócio nacional. Entretanto, tem características que o torna diferenciado dos outros componentes desse sistema.

A produção florestal, comparativamente à atividade agrícola, implica prazos maiores para o retorno dos investimentos, em conseqüência do tempo necessário para a colheita de árvores e de seus produtos.

O negócio florestal propriamente dito está, também, fortemente ligado à conservação do meio ambiente.

A atividade agrícola, embora praticada em superfície maior que os outros usos da terra, geralmente não atribui a si esta responsabilidade ambiental.

As populações, em geral, identificam as florestas como sinônimo de qualidade ambiental.

Cerca de 64 % do território brasileiro, o que corresponde aproximadamente a 544 milhões de hectares, é coberto com florestas.

Parte dessa área destina-se a Reserva Legal (RL) e Preservação Permanente - APPs (florestas ciliares, áreas muito declivosas, topos de morros) enquanto que cerca de 15 milhões de hectares são Florestas Nacionais (Flonas); há também inúmeras áreas de florestas privadas destinadas ao manejo sustentado e, ainda, 2,6 milhões de hectares de florestas nativas inseridas nos reflorestamentos.

Apenas 6,4 milhões de hectares são de plantações florestais. Vale ressaltar que uma parte considerável das áreas de RL e APPs encontram-se desflorestadas e com outra destinação de uso, necessitando recuperação ou restauração, respectivamente.

As estatísticas do setor florestal brasileiro evidenciam a geração de 6,5 milhões de empregos (9% da população economicamente ativa brasileira – PEA), a contribuição anual de mais de RS $ 22,0 bilhões (4,5% do PIB nacional), a exportação de US$ 5,5 bilhões (7,5% das exportações brasileiras) e a arrecadação anual, em 60.000 empresas, de R$ 4,8 bilhões (2% do total arrecadado no país).

Esses números dizem respeito quase exclusivamente ao que se gera com madeira, celulose, papel e móveis, em que os apoios em C&T e processos gerenciais, produtivos e industriais, permitiram que se alcançasse produtividades de até 70 m3/ha/ano, bem acima da produtividade média do setor, de 25 m3/ha/ano.

Com relação especificamente a eucalipto, já estão sendo avaliados, a nível experimental, clones com 110 m3/ha/ano. Essas marcas são muito superiores ao que se consegue na Finlândia, Portugal, Estados Unidos e África do Sul, com 5, 10, 15 e 18 m3/ha/ano, respectivamente.

O impacto do setor florestal na economia brasileira seria maior se nas estatísticas nacionais a ele fossem creditados os benefícios das atividades geradoras de produtos não madeireiros como erva-mate, castanha-do-Brasil, borracha, dentre outras.

Sabe-se que somente na cadeia produtiva da erva-mate há, pelo menos, cerca de 800.000 empregos.

Mesmo dentro do subsetor de plantações florestais comerciais, há espaços para ampliação das receitas, através do crescimento da área plantada e melhoria da eficiência de muitos produtores florestais e de algumas empresas que ainda operam com rendimentos abaixo do potencial atual brasileiro.

A melhoria da eficiência e da eficácia da produção florestal madeireira e não madeireira nacional englobará a melhoria da condução e da colheita das plantações florestais e, principalmente, da exploração das florestas naturais, além da geração de tecnologias para produção de novos produtos que possibilitem um maior aproveitamento por árvore, o aproveitamento e a reciclagem de resíduos.

Este procedimento passará, necessariamente, pelo estabelecimento de eficientes sistemas de inovação e de informação florestal. E a Embrapa Florestas vem contribuindo de forma significativa no estabelecimento destes sistemas.

Além dessas tendências técnicas, será fundamental que produtores e empresas do setor continuem seus processos de modernização.

Especificamente em relação às empresas, tem-se enfatizado que a sustentabilidade das organizações se dará sob a égide não somente da inovação na área técnica, mas também nos aspectos gerenciais.

Essa orientação indica que as organizações nesse século enfrentarão desafios e terão que se pautar pelos seguintes princípios: interdependência, valorização da sustentabilidade e do comportamento ético, eficiência ecológica, busca de oportunidades de crescimento, criatividade, recompensa, certificação independente, relacionamento com fornecedores, consumidores e com o entorno.

Mais e mais as empresas, principalmente as indústrias, estão tendo que produzir considerando a necessidade de proteger o meio ambiente e assegurar um melhor padrão de vida para as futuras gerações.

Para tal será necessário integrar o crescimento econômico, proteção ambiental e bem estar social em uma nova estratégia de negócio.

Enfim, serão importantes, no mundo e neste século, aquelas empresas do setor florestal que buscarem a sustentabilidade da sua produção, incorporando aspectos ligados à manutenção da biodiversidade, a sustentabilidade dos sítios e à certificação da matéria-prima; que na indústria optarem por produzir com baixo custo energético, gerando produtos poupadores de matéria-prima; que aproveitarem os resíduos do processamento e ampliarem os processos de reciclagem; que investirem nas gerências por acreditarem na importância da formação do seu capital humano, levando em conta temas como responsabilidade social e ambiental e, finalmente, trabalharem o mercado pela avaliação de cenários futuros e com o fortalecimento do relacionamento com os grupos de produtores e consumidores organizados.

Assim, pode-se prever que no século XXI será essencial um esforço para a organização de um Sistema de CT&I para o setor de base florestal.

Autores:

  • Moacir José Sales Medrado é pesquisador e chefe-geral da Embrapa Florestas;
  • Vitor Afonso Hoeflich é pesquisador da Embrapa Florestas;
  • Alberto William Viana de Castro é pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

 Publicado em: www.agrosoft.org.br/agropag/18698.htm

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