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Apagão Florestal

                                                                      Moacir José Sales Medrado/1

O alerta sobre a falta de madeira teve início na década de 1980, ampliou-se na década seguinte e, em 2002, consolidou-se com a vinda a público do Programa Nacional de Florestas – PNF, informando que para uma necessidade de plantio anual de 600 mil hectares, plantava-se apenas um terço.

Atualmente, já se admite a possibilidade de um déficit de 27 milhões de metros cúbicos de pínus no mercado brasileiro em 2020. Um exagero? São afirmações de pessoas experientes do setor.

Estabeleceu-se, portanto, o consenso sobre a falta de madeira, ratificando as previsões do PNF, de importantes empresários e de instituições públicas do setor florestal.

Aponta-se hoje para uma necessidade de plantio da ordem de 450 a 600 mil hectares anuais, das quais segmentos empresariais vêm plantando entre 170 a 200 mil hectares. Este déficit poderia ser ainda maior não fossem os avanços na tecnologia nacional que levaram ao aumento da produtividade, à melhoria dos rendimentos industriais e asseguraram processos de reciclagem em algumas áreas como no setor de papel e embalagem.

A reação do governo, ultimamente, tem sido boa, haja vista que a Ministra Marina Silva tem anunciado plantios da ordem de 465 mil em 2004 e previsões de 520 mil para 2005 e 600 mil para 2007. Além disso, conforme a Ministra, o aumento da disponibilidade de crédito florestal fez com a participação do pequeno produtor no plantio florestal subisse de 7% em 2002 para 19% em 2005.

Há de se considerar, no entanto algumas questões importantes. Em primeiro lugar, uma parte desses plantios destina-se para recuperação de reserva legal (RL) e uma outra para restauração de florestas ciliares (APP), ações importantíssimas do ponto de vista ecológico e de melhoria da imagem do setor, mas de pouco impacto para produção de matéria-prima para as indústrias. As APPs, por exemplo, não poderão ser utilizadas para produção e as RLs, somente sob regime de manejo sem corte raso. Ou seja, uma parte significativa desses plantios é de florestas plantadas com o intuito de reflorestamento e não de produção comercial de madeira. Além disso, os plantios estão pulverizados nas diversas regiões brasileiras, em grande parte das vezes, distante de indústrias de base florestal. Ressalte-se, também, que grande parte poderá sofrer reduções em função de falhas de condução, tais como controle de formiga e concorrência de plantas invasoras, dentre outras.

Assim, o mais seguro, é que as indústrias continuem a ampliar sua base florestal. Caso contrário, terão problemas com elevação do preço da matéria-prima e poderão, pior ainda, perder competitividade no futuro. Isto está ocorrendo, de certa forma, com a ampliação dos plantios na modalidade de fomento florestal.

O “apagão florestal”, apesar dos problemas que trouxe consigo, certamente, será um marco na história do setor. Nunca se viu, desde a década de 1960, tamanha movimentação nas áreas política, empresarial e científica. Em função disso, Dr. Celso Foelkel, gestor e cientista florestal experiente, em artigo sobre o apagão florestal chegou a denominá-lo de “bendito apagão”.

Como bem disse a Ministra Marina Silva, “os programas de fomento florestal empresariais e os esforços do Programa Nacional de Florestas têm sido importantes” ao ponto de ter havido de 2002/02 para 2004/05, segundo ela um aumento de crédito ao pequeno produtor de R$ 2 milhões para mais de R$ 50 milhões.

No que se relaciona a ciência e tecnologia, assistiremos no século XXI, certamente, a uma melhoria na eficiência da atividade florestal madeireira. Produzir-se-á mais produto com igual quantidade de matéria prima e se terá menores desperdícios nos processos de exploração e de industrialização. Isto se dará com a colaboração efetiva da academia e dos departamentos de pesquisa das empresas, produzindo ou adaptando tecnologias para a modernização das serrarias, a melhoria contínua da eficiência dos processos de produção de papel e celulose, a seleção de materiais genéticos com maiores rendimentos e qualidade superior, a ampliação dos processos de reciclagem e, também, para geração de novas tecnologias voltadas para a produção de produtos que levem ao aproveitamento máximo das árvores, em plantações comerciais (MDF, OSB, LVL, dentre outros). Muita inovação deverá vir com o estudo do genoma do eucalipto através dos Programas Forests e Genolyptus desenhados por um conjunto de empresas, inclusive da Embrapa, com recursos da iniciativa privada e do governo.

Considerando que o apagão é inevitável em alguns setores, para se evitar, conseqüências maiores, além das ações de C&T&I, há que se tomar várias outras medidas, dentre as quais destacam-se: a) importação, no curto prazo, de madeira de países vizinhos; b) ampliação da base florestal, principalmente, pelas empresas e seus integrados; c) incorporação de agricultores familiares ao agronegócio florestal via integração ou através de cooperativas e associações ou consórcios. d) ocupação das áreas degradadas, por inadequado uso agrícola, com espécies florestais de rápido crescimento; e) planejamento estratégico do setor, considerando o ordenamento florestal e um Plano Plurianual de metas; f) manutenção de uma política de incentivos (linhas de crédito compatível com a atividade florestal; g) estabelecimento de um sistema de governança da inovação para o setor de base florestal brasileiro; h) ampliação dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação.

Por fim, há necessidade de assegurar que os recursos injetados para o setor cheguem efetivamente à ponta: aos produtores e às indústrias e que haja uma efetiva interação interministerial em prol do desenvolvimento do setor.

 

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