Imagem Logo Potencial florestal e agroflorestal na conservação dos recursos naturais

Potencial florestal e agroflorestal na conservação dos recursos naturais


                               Medrado, M.J.S, medrado@cnpf.embrapa.br 

PALAVRAS CHAVES


INTRODUÇÃO

Mais que nunca a divisão do mundo se baseia na acumulação de capital. Um grupo de sete países comanda a economia mundial. Esses países exercitam modelos de desenvolvimento cuja alimentação depende de um uso intensivo de insumos, alguns deles com alto poder poluidor. Esse modelos têm gerado graves problemas em relação à qualidade do ar, da água, do solo e da diversidade de flora e fauna, a nível mundial. Além disso, eles têm sido exportados para os países em desenvolvimento com o intuito de garantir ganhos com a exportação dos insumos necessários. Este fato tem se agravado nos últimos anos com o processo da globalização.

Anualmente, cerca de 15,4 milhões de hectares são destruídos ou seriamente degradados com a finalidade de promover a expansão agrícola e pecuária e a produção de madeiras serradas, papel, celulose e energia (Parrotta et al., 1997). Esse número é de 97, portanto não é atual.

Apenas nas regiões tropicais, atualmente, o desflorestamento para fins de transformação de florestas em pastagens e em áreas agrícolas para exportação ou mesmo para uso em pequenas propriedades rurais têm sido o processo que mais tem contribuído para a perda da biodiversidade (Reitsma et al., 2001).

A economia dos países do G-7 propicia recursos suficientes para o desenvolvimento de pesquisas e de ações corretivas de parte dos problemas causados, para eles, por seus modelos de desenvolvimento. Ao contrário, nos países em desenvolvimento e nos pobres o uso intensivo de agroquímicos, associado a elevadas taxas de desflorestamento têm acentuado os problemas de degradação do solo e da água e diminuído a biodiversidade.

Em função desse panorama mundial, um novo campo está emergindo na ciência da sustentabilidade buscando o conhecimento das interações entre natureza e sociedade (Environment..., 2001). Em variadas partes do mundo, grupos organizados compostos por pessoas de várias classes sociais, têm se reunido em diferentes fóruns discutindo formas alternativas de desenvolvimento para a humanidade (Reitsma et al., 2001). Desses movimentos, têm surgido novas propostas de desenvolvimento global, destacando-se: a agroecologia (Sevilla Guzman, 2001), o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentável (Simon Fernández e Dominguez Garcia, 2001), dentre outras. Tem-se aceitado, inclusive, a idéia de que se o princípio da sustentabilidade não for realizado por toda a sociedade, a perda global da biodiversidade não será controlada (Loske e Bleischwitz, 1997 em Plieninger e Wilbrand, 2001).

A nível rural tem crescido de importância o movimento agroecológico que se baseia na agricultura participativa e nos processos de produção com base ecológica. Em quaisquer dos modelos alternativos o ordenamento florestal passa a ter importante papel e a política agrícola (incluindo as plantações florestais para produção de produtos madeireiros e não madeireiros com fins lucrativos) deve ser definida à luz da política de meio ambiente (incluindo as áreas de conservação, as plantações florestais para restauração de áreas de preservação permanente e de reserva legal, os códigos de uso da água e do solo e da conservação da diversidade da fauna e da flora) e a partir de um discussão democrática entre as representações políticas (federal, estadual e municipal), empresariais (grandes, pequenos e micro), populares (sindicatos e federações de trabalhadores, organizações não governamentais, associações de classe) e governamentais (superintendências de desenvolvimento, secretarias estaduais e municipais, empresas públicas, institutos oficiais e universidades públicas).

Em todas as circunstâncias, as plantações florestais para florestamento (aquelas em locais originalmente sem florestas e com o objetivo de prestação de serviço ambiental), aquelas para reflorestamento (plantações florestais para restauração de ecossistemas) e mesmo as plantações florestais e agroflorestais com objetivo comercial passarão a ter um papel mais evidente no processo de desenvolvimento. Com isto crescerá a importância da silvicultura e da  agrossilvicultura que hoje não ocupam o lugar de importância que merecem.

A SILVICULTURA E A AGROSSILVICULTURA COM FINS PURAMENTE COMERCIAIS

De acordo com Fox (2000), em resposta ao crescimento da população, o consumo de madeira do mundo, cresceu por volta de 36% de 1970 a 1994 atingindo 3,5 bilhões de metros cúbicos, metade destes para suprir a demanda de lenha e carvão e o restante para usos industriais como papel e lâminas, dentre outros. Ele mostra preocupação com o fato do crescimento da demanda estar sendo acompanhado da diminuição das florestas naturais.

Hartley (2002), apoiando-se em vários autores afirma que, atualmente 3% da cobertura florestal do mundo são plantações florestais o que compreende 60 milhões de hectares nos países desenvolvidos e 55 milhões nos países subdesenvolvidos. Também, afirma que o percentual de plantações florestais em relação a florestas naturais atinge 44% no Japão, 20% na Nova Zelândia, e mais de 90% na Inglaterra. Mundialmente, o processo de desflorestamento não tem sido conduzido dentro de padrões adequados que considerem zoneamentos econômicos e ecológicos e a conservação dos recursos genéticos. Em função disto a sociedade tem vivenciado inúmeros casos de degradação ambiental, principalmente em países pobres e naqueles em desenvolvimento.Postura dos países desenvolvidos: condenam países em desenvolvimento pela má exploração de suas florestas nativas, mas não falam a respeito de suas próprias florestas nativas, que não existem mais. Óbvio que esse fato não justifica nossa atitude irracional.  Desflorestamento de florestas fluviais e de áreas de reserva legal nas propriedades rurais, poluição das águas pelo uso de sistemas de produção ambientalmente inadequados e degradação de solos pelo mau uso agrícola, são exemplos. Mesmo em áreas de florestas naturais manejadas tem-se presenciado inúmeras agressões aos recursos naturais provocadas pela exploração de produtos madeireiros com alto impacto e pelo desperdício da matéria-prima extraída. Tantas agressões ao meio ambiente têm ocasionado grandes enchentes, desertificação, perda de biodiversidade e contribuído para o aumento do efeito estufa. A sociedade leiga e mesmo alguns profissionais de ciências agrárias têm atribuído ao setor florestal a responsabilidade por tal situação. Indaga-se, inclusive se é realístico esperar a salvação das florestas em um mundo onde prevalecem a pobreza, a miséria e a tirania (Persson, 2000). E o interesse financeiro é prioridade frente aos aspectos ambientais e sociais. (que por sinal é a pedra fundamental do neoliberalismo)

Sabe-se, no entanto, que a responsabilidade pela degradação ambiental deveria ser dividida entre os setores agrícola, pecuário, industrial e em menor grau ao florestal. Mesmo dentro do setor florestal a responsabilidade deveria ser atribuída a ações ilegais de empresários inescrupulosos, atraso tecnológico de muitas indústrias florestais, desconhecimento da legislação ambiental pela maior parte da população rural, deficiente assistência técnica florestal, falta de educação ambiental popular e pobreza rural.

A responsabilidade da degradação ambiental deve ser atribuída principalmente ao governo que não proíbe o avanço da agricultura (soja) na região Amazônica! Tanto que existe um porto para escoamento da produção de soja para exportação no meio da Amazônia!!! Também são responsáveis os Eng. Florestais que assinam os projetos, mesmo sabendo o desastre ambiental que causarão.

Agora, que o preço da soja caiu, os campos são simplesmente abandonados. Desflorestados e abandonados, com o solo exposto ao sol.  

De uma forma geral, não se pode negar, também, a responsabilidade do sistema de formação universitária que até bem pouco direcionava os seus cursos de agronomia e engenharia florestal para a produtividade física sem se preocupar, na devida medida, com os reflexos ambientais do modo de produção.

Diminuida a responsabilidade do setor florestal, vale ressaltar que a silvicultura comercial apesar de ter proporcionado excelentes níveis de produtividade nas grandes empresas de plantações florestais, não tem sido usada, na maioria das vezes, com a competência suficiente para fazer isto de forma ambientalmente correta. Também não tem tido capacidade para o desenvolvimento de sistemas adequados de manejo para exploração de florestas naturais e para exploração florestal em pequenos unidades de exploração florestal. Nos países tropicais, a silvicultura parece ter se rendido à pressão cultural e científica dos países desenvolvidos e utilizado princípios e modelos ambientalmente desequilibrados, além de ter feito um esforço aquém do necessário para a sustentabilidade da exploração de espécies nativas.

Em função disto, na última década, movimentos sociais com forte apelo ecológico têm exigido, principalmente no mundo tropical, legislações cada vez mais restritivas ao uso de grandes plantações homogêneas (como por exemplo os plantios de pinus e eucalipto??? Eles estão abastecendo as indústrias de celulose e papel e as siderúrgicas ao invés das espécies nativas oriundas principalmente da Amazônia)  e ampliado a discussão sobre sistemas de certificação de reconhecimento mútuo. Em consequência, várias das grandes empresas florestais reformaram os seus processos de produção, utilizando-se de práticas e princípios ambientalmente adequados e as instituições de pesquisa florestal ampliaram os esforços na pesquisa de espécies nativas, de sistemas de manejo mais adequados e da agrossilvicultura.

A SILVICULTURA E A AGROSSILVICULTURA COM BASES CONSERVACIONISTAS

Neste tópico, a silvicultura será tratada em um sentido clássico entendendo-se que ela possa ser considerada como a forma de manejar florestas para finalidades definidas por seu proprietário (governo ou empresário privado), todavia, considerando como ponto básico a sustentabilidade dos sítios e dos ecossistemas visando assegurar para as gerações futuras um ambiente natural que lhes garanta qualidade de vida. Sua participação como ferramenta essencial para o desenvolvimento de empreendimento comerciais sustentáveis será ressaltada.

Em empreendimentos comerciais

Manejo de florestas naturais

Com algumas exceções, não é suficientemente forte a base científica que apoia as atividades de manejo de florestas naturais no mundo. Programas de manejo privilegiam, sobremaneira, os dados dendrométricos desconsiderando o componente genético (Sebbenn et al., 2000). Esta estratégia, certamente, diminuirá a biodiversidade nas áreas manejadas com a finalidade de produção madeireira e em consequência trará perdas à economia do setor florestal ao longo prazo. Em função disto, a exploração de florestas naturais para produção madeireira vêm sofrendo restrições, em todo o mundo (Fox, 2000). Assim, a conservação da diversidade biológica deverá ser uma das mais importantes metas do manejo de florestas naturais de forma ecologicamente sustentável.

A partir deste panorama, a avaliação da sustentabilidade do manejo florestal será fundamental para que se possa assegurar a manutenção da produção e das funções ecológicas e socioeconômicas dos sistemas florestais. Para tal, o manejo deve ser avaliado através de um conjunto de princípios, critérios, indicadores e verificadores práticos, cientificamente bem fundamentados (McGinley e Finegam,2001).

Um outro ponto importantíssimo será a colaboração entre ecologistas e silvicultores (Sheil e Heist, 2000), pois apesar de existirem inúmeras informações ecológicas relevantes para o manejo florestal, na prática elas não tem sido utilizadas. O trabalho conjunto desses especialistas conciliará viabilidade de longo prazo das florestas tropicais e as necessidades humanas (Lindenmayer, 2000). No âmbito do manejo sustentado para produção madeireira, essa contribuição conjunta poderá exercer um papel destacado na conservação dos recursos de flora e fauna.

O uso de métodos de manejo florestal sustentado de baixo impacto para grandes extensões de floresta ou para florestas comunitárias deverá propiciar a manutenção de uma adequada reserva genética além de possibilitar a manutenção de uma quantidade de alimentos suficiente para a manutenção da diversidade de animais. Há no entanto, áreas manejadas cuja variabilidade atual é pequena e onde a silvicultura terá um papel fundamental na transformação (O´Hara, 2001).

O manejo para usos múltiplos, por outro lado, tem tido grande evidencia, nos últimos anos. No Canadá, por exemplo, estão sendo testados e desenvolvidos métodos para análise e avaliação de uso múltiplo das florestas numa perspectiva de conservação (Mrosek, 2001) e nos Estados Unidos da América a ênfase na recreação, no manejo visando aspectos visuais e culturais, manejo da vida selvagem, manejo de habitat para peixes, melhoria das fontes de água, tem diminuído em quase quatro vezes de 1989 a 1997, a exploração de madeira (Fox, 2000).

Grandes plantações florestais.

As práticas silviculturais visando a geração de produtos madeireiros ou não madeireiros para o mercado florestal convencional deverão considerar que mesmo nos empreendimentos monoculturais devem considerar, além da função de produção, algumas outras como: conservação da biodiversidade, controle a erosão, manutenção da capacidade produtiva do sítio, proteção dos corpos d´água existente na área explorada ou em seu entorno, manutenção dos processos hidrológicos da bacia hidrográfica em que estão inseridos, e a captura de carbono.

Hartley (2002) com base em Wigley e Roberts (1997) e Diaz et al., (1998) afirma que em relação a biodiversidade a consideração mais importante a ser feita é o contexto espacial em que está o plantio. O uso de plantações mistas de espécies nativas ou mesmo a conservação de faixas de vegetação natural circundando blocos homogêneos não muito grandes tornam os plantios mais sustentáveis em função de tornarem o ambiente mais complexo. 

Pequenas plantações florestais

Associando-se as pequenas plantações com pequenos produtores, o conceito de propriedade agroflorestal cresce de importância uma vez que nesse caso o produtor entende o plantio florestal como um sistema interagindo com um número amplo de outras atividades (Forestación..., 2003). Nas pequenas propriedades, tanto a silvicultura como a agrossilvicultura poderão se transformar em excelentes ferramentas para a construção de sistemas florestais e agroflorestais com sustentabilidade superior às plantações homogêneas. Outro ponto importante a considerar é o fato de que a silvicultura nas pequenas propriedades deverá ter uma função conservacionista além de produtivista. Ela poderá ser importante tanto para estancar a ação predadora sobre os remanescentes de floresta natural como para recomposição das florestas ciliares e das áreas de reserva legal para uso sustentado, anteriormente degradadas.

Tanto a silvicultura conservacionista quanto a agrossilvicultura poderão, nesse segmento de produtores, servirem como ferramentas para estratégias de sustentabilidade com base na agroecologia apoiando métodos de desenvolvimento endógeno para o manejo ecológico dos recursos naturais (Sevilla Guzman, 2001).

É importante ressaltar que pelo fato de nas pequenas propriedades rurais predominarem pequenas unidades florestais, modernas técnicas de manejo são frequentemente inadequadas. Assim, métodos apropriados para florestas em pequena escala devem ser inventados e práticas tradicionais melhoradas (Piussi e Farrell, 2000).

Normalmente, nas regiões onde se concentram pequenas propriedades rurais formam-se mosaicos compostos de fragmentos de diferentes tamanhos e que apresentam uma probabilidade reduzida de dispersão e estabelecimento de indivíduos adultos e juvenís da fauna responsável pelo fluxo gênico (Seoane et al., 2000). Seus efeitos sobre trocas nas características locais e regionais das florestas ocorrem em todo o mundo tropical e mesmo em florestas de regiões com climas temperados e boreais de países tidos como de silvicultura moderna. Na Finlândia, por exemplo, o manejo intensivo de florestas durante décadas seguidas tem levado a sensíveis trocas nas características das florestas e na paisagem (Löfman, 2003). Na Nova Zelândia a fragmentação das florestas naturais e a expansão das plantações, também, tem provocado sensíveis modificações na paisagem.

Dependendo do país ou da região, os processos de fragmentação florestal e em especial aqueles provocados por produtores familiares em grande parte das vezes ocorrem porque os produtores têm na exploração florestal a mais lucrativa das atividades. Assim, nesses casos, para que isto possa ser estancado é necessário que lhes sejam apresentadas alternativas mais lucrativas (Kaimowitz, 2000).

Exploração sustentável de áreas montanhosas

As regiões montanhosas são uma importante fonte de água, energia e diversidade biológica, e são essenciais para a sobrevivência do ecossistema complexo global. Além disso ela provê recursos chave tais como minerais, produtos florestais e agrícolas e recreação. São, todavia, rapidamente trocáveis e suscetíveis a erosão, desmoronamentos, e rápidas perdas de habitat, espécies e diversidade genética (Kräuchi et al., 2000).

As regiões montanhosas do mundo nunca tiveram tanta atenção voltada para si como na atualidade. A década passada constitui-se no marco referencial, principalmente pelo fato desse ecossistema ter recebido atenção especial durante a reunião de elaboração da Agenda 21, em 1992. Quando os países membros da Conferência aprovaram o estabelecimento do Capítulo 13 “Manejo de ecossistemas frágeis: desenvolvimento sustentável das montanhas” criou-se as condições para uma discussão mundial sobre o tema. A Organização das Nações Unidas reconheceu, portanto a importância global dos ecossistemas de montanhas.

A partir de 1992 houveram inúmeras discussões sobre o tema o que, melhorando a conscientização e conhecimento da importância global dos ecossistemas de montanhas, um dos indicadores mais sensíveis do ambiente global e de trocas climáticas. Apesar disto, a maioria das regiões montanhosas do mundo permanece com um nível de desenvolvimento inaceitável, predominando pobreza, conflitos armados, desastres naturais, delapidação de recursos naturais e poluição, dentre outros. Mesmo nas regiões mais desenvolvidas, estratégias de desenvolvimento inapropriadas têm impactado de forma séria e negativa a água, a flora, a fauna e os próprios moradores das montanhas..

Na Europa, os ecossistemas de montanha têm sido uma questão de grande prioridade, em função de que vários países têm grandes áreas nessas condições. A Itália, por exemplo, tem 50% de seu território montanhoso (Kijazi, 2003) com cerca de 4.500.000 ha de florestas com características montanhosas representando 2/3 da área de todas as florestas nacionais. As áreas florestas de montanhas da Suíça representam 2/3 de toda sua cobertura florestal e têm uma importante função protetiva (Carey, 2001). Na Áustria, 67% do território compreende áreas montanhosas, como definida pela União Européia, e aproximadamente metida das 2.351 comunidades austríacas vivem e trabalham nessa região (Mountain..., 2003)

No Brasil há inúmeros estados com regiões e municípios em regiões montanhosas e que deverão sofrer graves restrições de uso com a aprovação e regulamentação do novo código florestal que proibe a explaração de topos de morros. Sabe-se, todavia, que em muitas circunstâncias populações instaladas nesses locais, ali permanecerão por interesse social. Nesses casos será importantíssima a contribuição da silvicultura conservacionista com práticas florestais e agroflorestais adaptadas a essas circunstâncias. Como a legislação se constitui na expressão de uma disputa entre argumentos contraditórios, em uma determinada época, há necessidade de que sejam ampliadas as pesquisas nesse importante ecossistema mundial para que se possa responder a questões fundamentais estabelecidas em Kräuchi et al. (2000): a) Como as florestas podem ser manejadas em face às incertezas?; b) Quais os elementos e processos chaves dos ecossistemas florestais de montanhas são necessários para desenvolver um manejo baseado no ecossitema?; c) Qual a estratégia silvicultural em termos de colheita e regeneração são requeridos agora para manter ou aumentar a estabilidade do ecossistema e a biodiversidade?. .

Zonas urbanas e periurbanas

Enquanto a agricultura urbana está iniciando, a "floresta urbana" tem uma longa tradição como um holístico, multi e interdisciplinar enfoque para o manejo dos ecossistemas (Kuchelmeister. 2003). De acordo com Kuchelmeister (2003) o termo floresta urbana (FU), em um senso mais restrito, significa o plantio e o manejo de todos os locais onde árvores, arbustos e vegetação relacionada interagem junto com o ecossistema urbano. Assim, engloba plantios florestais e agroflorestais em chácaras, fragmentos florestais em fundos de vales, jardins, parques e árvores plantadas em ruas.

A aplicação de tecnologias silviculturais com visão conservacionista, nas áreas urbanas e periurbanas se constituirá no futuro em uma ferramenta fundamental para o estabelecimento de políticas de uso do solo pelos municípios.  Dentre elas serão destacadas aquelas voltadas para uso na  proteção de encostas e na revegetação de margens de cursos d´água, diminuição da pobreza e até mesmo segurança alimentar de comunidades pobres. No último caso, o uso do conhecimento da silvicultura das espécies florestais de múltiplos usos (medicinal, energia, alimentar) terá importante papel. Programas de arborização urbana das áreas periféricas poderá incluir espécies medicinais e frutíferas propiciando além da melhoria do aspecto cênico, produtos para a alimentação e saúde dos seus moradores. É possível, com o uso da inteligência humana e da boa vontade, que esses plantios urbanos pudessem servir, até mesmo, fazerem parte de uma rede de conservação da biodiversidade nas zonas urbanas e periurbanas. A agrofloresta como um enfoque integrado para a conservação da biodiversidade tem recebido bastante atenção, embora sejam raros os métodos para medir tal contribuição (Huang et al., 2002).

Em Kuchelmeister (2003) discute-se, também, a possibilidade de se utilizar o conceito de FU para melhoria da qualidade do ar e redução do dióxido de carbono em cidades industriais.

Em empreendimentos ambientais

Restauração de ecossistemas

A degradação de ecossistemas consiste no comprometimento de integridade ecológica, em virtude de perturbações dos processos naturais devido a eventos não naturais, de diferentes escalas espaciais e intensidades (House, 2003).

Dentre os principais eventos não naturais, destacam-se: o crescimento populacional associado ao aumento da demanda por produtos da floresta e a expansão da fronteira agrícola em função de desequilíbrios populacionais que se caracterizam por excesso populacional em determinadas regiões e territórios desocupados em outras.

Nas áreas de expansão de fronteira agrícola, o ciclo de ocupação tem início com o desflorestamento e a utilização de um sistema de derrubada e queima que com o tempo origina a agricultura itinerante e os sistemas de pousio. Assim, estabelece-se a fragmentação florestal que amplia-se com a pressão sobre as terras e com a consequente diminuição dos períodos de pousio e estabelecimento de produção intensivos em mecanização e agroquímicos para sustentar a produtividade das terras. Em alguns casos devido ao mau uso do solo ocorre a degradação de inúmeras áreas e até mesmo de ecossistemas e finalmente de biomas. Uma outra forma de degradação da floresta consiste na sua superexploração. Exemplos como o das florestas do sudoeste do Sri Lanka com 15% de remanescentes restritos, na maioria dos casos, a áreas declivosas Ashton et al. (2001) e da Floresta Atlântica brasileira são dos mais importantes.

Os processos de fragmentação e de degradação das florestas, normalmente, levam a que autoridades, produtores e organizações governamentais passem a travar discussões contraditórias visando a regulamentação de seu uso e o estabelecimento de programas para a restauração de florestas fluviais e de áreas que deveriam estar preservados de forma permanente nas propriedades rurais com a finalidade de uso sustentado.

O conhecimento dos estágios sucessionais da vegetação, da fenologia, da fisiologia de sementes, dos sistemas de produção de mudas, do crescimento das espécies e a contribuição com informações para o estabelecimento dos sistemas agroflorestais de alta diversidade, asseguram o importante papel da silvicultura na restauração de florestas fluviais; além disso, o estabelecimento de árvores em solos degradados pode facilitar a regeneração de espécies nativas que não crescem em locais abertos ou sob competição com espécies erbáceas (Carnevale e Montagnini, 2002).

Para a recuperação de áreas de reserva legal, além dos conhecimentos silviculturais pode-se lançar mão dos conhecimentos agrossilviculturais para a construção de sistemas agroflorestais de alta diversidade biológica que produzam entradas financeiras para os proprietários, ao tempo em que propiciem o crescimento de espécies chaves no processo de sucessão ecológica (Amador e Viana, 1998) e contribuam para controle da erosão e melhoria da fertilidade do solo (Gill e Lal, 2002).

De acordo com Parrota et al. (1997), estudos da década de 90 já mostravam que as plantações florestais podem facilitar ou catalisar a sucessão florestal em seu sub-bosque. Os autores sugerem que, sob certas circunstâncias, o efeito catalítico se dá em função das trocas nas condições microclimáticas no sub-bosque, do aumento da complexidade estrutural, do desenvolvimento de camadas de liter e húmus que ocorrem nos primeiros anos de crescimento da plantação. Estas trocas levam a um aumento na entrada de sementes provenientes de processos de dispersão feitos por animais silvestres que chegam a área atraídos pela plantação ou mesmo pela supressão de espécies demandantes de luz que anteriormente poderiam estar evitando a germinaçã

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