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A investigação científica e a modernização do setor florestal brasileiro

A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E A MODERNIZAÇÃO DO SETOR FLORESTAL BRASILEIRO

 Vitor Afonso Hoeflich1/; Moacir José Sales Medrado2/

O negócio florestal brasileiro, gera mais de seis milhões de empregos, contribui com mais de US $ 20 bilhões para o PIB, exporta mais de US$ 4 bilhões (8% do agronegócio) e contribui com 3 bilhões de dólares em impostos, ao ano, arrecadados de 60.000 empresas.

Vale ressaltar que o setor, além de empresas e produtores florestais eficientes, engloba outros com baixo nível tecnológico e plantas industriais que operam com baixíssimos rendimentos gerando, muitas vezes, resíduos prejudiciais ao meio-ambiente.  Essa situação tem imputado ao agronegócio florestal, responsabilidade sobre o processo de degradação ambiental muito superior ao que efetivamente representa. Assim, é imperioso informarmos às sociedades brasileira e mundial, que há disposição do setor e formas de utilização sustentáveis dos recursos florestais.

Análises sobre o setor florestal mundial têm indicado as seguintes perspectivas:

a)    crescimento médio de 2% a.a.;

b)    diminuição da utilização de madeira oriunda de florestas naturais tropicais;

c)     aumento da madeira de origem de florestas plantadas;

d)     restrições ambientais;

e)    ampliação da competição com outras commodities;

f)     crescimento de exigências de mercado, tais como qualidade do produto e certificação de origem, entre outras.

Em função do aumento da população e do consumo per-capita, estima-se um consumo de madeira no mundo da ordem de 1,6 bilhão de metros cúbicos/ano, havendo projeções para 2050 (FAO) de 2 a 3 bilhões de m3 /ano com um aumento aproximado de 60 milhões de m3, ao ano.

Esses dados levam o setor a buscar respostas efetivas sobre como manter o consumo de matéria prima sem degradar as florestas naturais e, ainda melhorando a sua imagem. A resposta natural é: aumentando-se a eficiência e eficácia da produção, da exploração e da conversão da matéria-prima. Isto englobará a melhoria da condução e exploração de plantações florestais e da exploração madeireira em florestas naturais, além da geração de tecnologias para produção de novos produtos que possibilitem um maior aproveitamento por árvore, aproveitamento de resíduos e reciclagem. Ocorrerá um avanço crescente na utilização de fibras de base florestal replantada, de fibras recicladas e de mistura de fibras:

A sustentabilidade produtiva do agronegócio florestal exigirá a difusão e incorporação das modernas tecnologias ao processo produtivo passando, necessariamente, pelo estabelecimento de um sistema de informação florestal que democratize os conhecimentos disponíveis e pela ampliação dos investimentos dos setores públicos e privados na pesquisa. A capacitação tecnológica poderá ser dinamizada através da promoção de programas de parcerias e associações entre produtores brasileiros, de incentivos a convênios de cooperação do setor com institutos e empresas nacionais internacionais, da promoção de programas de intercâmbio técnico com outros países, da maior interação com institutos de pesquisa nacionais, públicos e privados, e de incentivos às carreiras de pesquisa na área (mestrado e doutorado), da divulgação de técnicas de manejo silvicultural e prestação de serviços de assistência técnica aos médios e pequenos produtores, através da ação dos institutos de pesquisa das universidades e do governo, e da criação de centros de formação profissional de nível médio.

A modernização das florestas plantadas e a melhoria do manejo sustentado para produção madeireira em florestas naturais deverão ser efetivadas com a utilização de práticas de exploração de baixo impacto, melhor planejamento na condução dos procedimentos silviculturais e melhores tratamentos pós-colheita. Especificamente nas florestas naturais, as boas práticas de manejo deverão se basear na redução de danos ao estande inicial, na melhoria da regeneração natural e na diminuição do intervalo entre colheitas sem prejuízo à sustentabilidade.  Nos dois tipos de exploração, o respeito ao meio ambiente refletido no bom uso dos recursos naturais, no cuidado com a biodiversidade e na utilização de sistemas de produção certificados por entidades independentes que incorporam além da preocupação da produção ambientalmente correta a necessidade da produção socialmente adequada, serão preocupações obrigatórias.

Vale salientar que em regiões onde não existe uma concentração de empresas verticalizadas, a pesquisa pública tem uma importância fundamental. Em grande parte do nordeste brasileiro, por exemplo, quando se busca plantar florestas não se dispõe das informações mínimas sobre espécies para as diferentes regiões. Pior ainda quando se busca informação sobre o manejo da Caatinga que demanda informações básicas do potencial de regeneração natural da vegetação.

No campo da indústria será importante o desenvolvimento de novos produtos e o aumento da eficiência produtiva com redução de custos, garantia de qualidade, plantas eficientes. Haverá importantes inovações. Para energia e para papel e celulose, por exemplo, o setor, utilizará ferramentas tradicionais de melhoramento e fará uso da genética genômica, com o apoio das instituições de pesquisa, para ampliarem o rendimento da matéria prima. Também será ampliado o uso de processos de reciclagem pela forte pressão da sociedade e pela sua aceitação de papéis de menor alvura em troca da redução do lixo sólido. Importante será a ampliação dos processos que possibilitem produzir mais produto por árvore, transformando a matéria prima em produtos como OSB, MDF, e outras formas de chapas e laminados. A busca de tecnologias relacionadas à mistura de fibras celulósicas curtas e longas e de outros tipos de fibras, de molde a obter qualidades diferenciadas e específicas, com uma combinação de propriedades de resistência e maciez e um grau intermediário de alvura nos produtos será outro ponto a ser buscado. Essas tecnologias poderão reduzir a quantidade de matéria prima oriunda de florestas naturais.

Uma tendência importante a ser considerada é a diminuição das áreas próprias das indústrias em função da preocupação com os movimentos sociais de trabalhadores sem terra. Isto fará com que sejam ampliados mecanismos de integração ou outras formas de incentivo a que pequenos produtores possam fazer a produção da matéria prima. Isto abrirá uma nova frente de pesquisa para produzir tecnologias adaptadas a esses pequenos produtores.

Resumindo, principalmente neste século, a valorização da investigação científica será  fundamental para o agronegócio florestal, pois, certamente, sua sustentabilidade ependerá de que sejam feitos investimentos do lado da produção na sua sustentabilidade incorporando aspectos como: manutenção da biodiversidade; sustentabilidade dos sítios; certificação da matéria-prima; do lado da indústria na produção com baixo custo energético; no aproveitamento dos resíduos do processamento, na geração de produtos poupadores de matéria-prima; na ampliação dos processos de reciclagem; do lado da gerência na formação do seu capital humano considerando a responsabilidade social e a responsabilidade ambiental e do lado do mercado no uso de técnicas de cenários e relacionamento com grupos de consumidores organizados.

Todo este esforço dependerá fundamentalmente da investigação científica e da geração e apropriação de tecnologias modernas. Cabe a nós brasileiros definirmos que modelo de relacionamento pesquisa e segmento empresarial deveremos seguir. Acreditamos que além da importância da pesquisa nacional no desenvolvimento de tecnologias silviculturais e industriais é importante a incorporação de investigadores da área de administração a fim de possibilitar a que elas possam atualizar seus modelos gerenciais incorporando princípios de administração modernos, tais como: interdependência, valorização da sustentabilidade, valorização do comportamento ético, eficiência ecológica, busca contínua de oportunidades de crescimento, criatividade, recompensa ao corpo funcional, certificação independente e relacionamento com consumidores e com a comunidade.

Dadas as condições nacionais, devemos optar por um modelo misto tanto em relação aos recursos financeiros quanto à própria execução da pesquisa. Os recursos públicos deverão ser direcionados para a investigação em linhas que contemplem a sustentabilidade ambiental, o zoneamento florestal e a silvicultura enquanto que o setor privado deve financiar em maior escala aquelas linhas de pesquisa que dizem respeito à sustentabilidade econômica das atividades florestais.

A atividade florestal com base tecnológica adequada aos conceitos modernos de sustentabilidade é investimento econômico, promove a segurança social, e conserva o meio ambiente. Com o apoio da ciência e a tecnologia melhorando os processos de produção e industrialização da matéria-prima e, também, gerenciais têm prestado importantes contribuições para o agronegócio. No Brasil, onde a produtividade média é de 25 m3/ha/ano, essa contribuição permitiu que algumas empresas obtivessem produtividades superiores a 40 m3/ha/ano, enquanto que Finlândia, Portugal, Estados Unidos e África do Sul conseguem apenas produtividades médias em suas florestas na ordem de 5, 10, 15 e 18 m3/ha/ano, respectivamente.

1/Economista; Professor Doutor da Escola de Florestas da Universidade Federal do Paraná; aposentado da Embrapa como Pesquisador A

2/Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agricultura; Especialista em Planejamento Agrícola e Sistemas Agroflorestais. Aposentado da Embrapa Florestas como Pesquisador A e atual Diretor Geral da Medrado e Consultores Agroflorestais Associados Ltda.

 

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