Imagem Logo Antes bem acompanhado do que só: Adeus aos gênios e aos individualistas

Antes bem acompanhado do que só: Adeus aos gênios e aos individualistas

Moacir José Sales Medrado

Nos setores agropecuário e florestal modernos, tornar o sistema de produção mais complexo dos pontos de vista do meio ambiente e da biodiversidade será cada vez mais um ato “clean”, um ato “up”, essencial para a busca do tão propalado “sustainable development”. Admitamos que desenhar sistemas desta natureza – sistemas agroflorestais de alta complexidade biológica e sustentáveis do ponto de vista socioeconômico, por exemplo - não é algo fácil e necessita não somente de conhecimentos sobre ciências agrárias (agronomia, engenharia agrícola, veterinária, zootecnia, engenharia florestal), mas também de ciências biológicas (botânica, ecologia, fisiologia, genética, microbiologia), de ciências sociais aplicadas (direito, administração e economia) e até mesmo de engenharia de produção. Eis, portanto, uma nova atribuição para nossas Universidades: formar profissionais com capacidade de trabalhar em equipe e de articular com outras áreas profissionais diferentes da sua.

É importante sabermos que cada vez mais as empresas que absorverão nossos jovens profissionais, independentes de seu tamanho, não se sustentarão se não forem empresas que além de produzirem com qualidade e a preços competitivos estiverem "antenadas" no que exige a legislação (em alguns casos, não mais nacional mas também a internacional), no aumento das exigências dos consumidores e no que pensam as organizações não governamentais, em especial, aquelas ligadas ao meio ambiente. Por isto precisam de assessoramento “complexo” e criarão seus gênios através de equipes onde os domínios do conhecimento de partes gerarão o verdadeiro gênio comercialmente suportável. Digo isto porque gênios são escassos e por isto têm custo pouco suportável pela grande maioria ou quase totalidade das empresas.

Estamos adentrando em uma era onde será muito pequeno o espaço para os profissionais que se acham “bam, bam, bans” de sua área de formação profissional e que acham que podem resolver tudo sozinho. Esta nova era será, sem dúvidas, a era dos humildes – eles terão “o reino dos céus”. Humildes no sentido de serem profissionais que captaram o sentido do novo mundo: Um mundo onde predominam a abertura de mercado, a rapidez das transformações científicas - em especial na área de biotecnologia, a velocidade com que as mudanças se propagam e a democratização do acesso de empresários e profissionais e até mesmo de trabalhadores rurais à informação via internet. Democratização esta, que levará ao meio rural, fatalmente o “e-commerce”, os chamados sistemas “marketplace” e os sistemas para “web”. Uma nova era que talvez estabeleça um sistema educacional do meio rural, envolvendo supletivos, ensino médio e universidades e que formem profissionais que além das características antes citadas tenham um comprometimento real com o campo evitando a simples transferência do sistema educacional urbano para o rural.

Mas não serão apenas os perfis dos profissionais que sofrerão modificações. A grande maioria de nossos prefeitos rurais também terá que se adaptar a um novo tempo em que o velho conhecido setor primário não está mais só. Temos presenciado nas últimas décadas transformações radicais no campo. Estamos vivenciando a época da pluriatividade, da multifuncionalidade.

Atualmente, observa-se um grande crescimento de atividades ligadas aos setores secundário e terciário na área rural - complementares à agropecuária. Também se observa a expansão daquelas ligadas à valorização da natureza, como é o caso do turismo rural, que já se mostra relevante no PIB de muitos municípios brasileiros e na formação da renda de muitas propriedades rurais.

Deste modo, a cada dia, o mais importante passa a ser a interligação do urbano com o rural. Nesse sentido, inteligentes serão os prefeitos e os empresários que apesar de toda a modernização tecnológica atual, valorizarem os seus recursos naturais, a cultura, a biodiversidade, a qualidade de vida e o capital humano e social do seu lugar.

Mudanças são esperadas também no perfil de nossas empresas e empresários rurais. No meio rural, há tempo que as empresas deixaram de concentrar-se apenas nas atividades puramente agrícolas e passaram por uma expressiva diversificação de atividades. Sabemos que cada realidade rural ou urbana deve ser entendida em sua particularidade e não estamos querendo advogar a idéia do “novo rural”. Concordamos, também, com aqueles que entendem que é a intensa territorialidade que distingue o rural do urbano. No entanto, não podemos deixar de observar que até mesmo as políticas públicas orientadas a partir do governo e mesmo da sociedade, através de seu parlamento, encaminham para que o meio rural exerça mais funções e seja pluriativo; a despeito de toda contradição que existe atualmente entre os acadêmicos e entre as lideranças sociais.

Estamos certo, portanto, de que nesse novo tempo, muitas empresas familiares assumirão a figura de condomínio rural e muitas outras passarão de tradicionais geradoras de produtos rurais, para fornecedoras de serviços multifuncionais, propulsoras do desenvolvimento regional ou territorial apoiadas em profissionais com formação adequada, inteligência emocional, visão estratégica e, portanto, aptos a desenvolverem e/ou trabalharem em equipes de alta performance.

 

Voltar